PRA BATER NAS CAIXAS E MEXER COM A CENA EM 2020!
- rpretas
- 10 de jan. de 2020
- 6 min de leitura

Imagens de arquivo
Texto por Luana Protazio
Mais um ano começando e estamos com todo o gás por aqui, empenhadas em contribuir com a cultura que vivemos e a comunicação que acreditamos! Para abrir os trabalhos, nada melhor que falar de música e ver o que tá batendo nas caixas, afinal, além de ser nossa companheira de corre e de sossego, a música comunica e reflete um momento - principalmente o rap e suas vertentes e ramificações, que compõem o cenário em que nos inserimos.
Na intenção de abrir o diálogo, quero trazer um pouco dos trampos que tocaram no meu fone no último ano e eu senti a diferença e acredito que irão se consolidar no decorrer dos próximos meses - ou pelo menos deveriam. São artistas que tão no corre com trampos diferenciados e que valem a atenção, ainda que alguns estejam mais em foco no mainstreaming do que outros e ainda, também, que eu não seja especialista no assunto.
A proposta aqui não é estabelecer um ranking ou algo do tipo, e sim fugir um pouco das listas que trazem os mesmos artistas e ignoram novos trabalhos e toda a pluralidade da cena, ou seja, só citam os caras e não giram a roda. Sem mais delongas, pega a visão:
• TASHA E TRACIE
Gosto de acreditar que provavelmente você já ouviu falar nas gêmeas Okereke por aí, por que se não ouviu onde você tava? Tasha e Tracie estão na cena há algum tempo de muitas formas: moda, discotecagem, produção… sempre com excelência, e, recentemente, lançaram o EP ROUFF em colaboração com a Ashira (que também está nesta lista!) para a alegria e representação da mulher preta independente de favela. Não deu outra, o som das minas bateu e segue batendo nas caixas e após se apresentaram no Festival CENA e na Festa de 3 anos do projeto Todas Podem Mixar, as irmãs se preparam para abrir o show do Racionais Mcs na Tour 3 Décadas, em Março. É mole, nega? Toca aquela que elas gosta!
Obs. Trocamos uma ideia com essas mina brabíssimas no nosso IGTV, confere aqui!
• ASHIRA
Presta atenção nesse nome. O EP ROUFF que citei anteriormente foi todo produzido pela Ashira e daí já dá pra ter uma noção da qualidade e diferencial que estamos falando aqui… Em 2016, Ashira participou da faixa “Quadros” do BK e recentemente como backing vocal na música intro do álbum Running, do Febem. Agora, com o EP recente em colaboração com Tasha e Tracie, tivemos um pouco mais dessa artista incrível, mas caaaaalma que tudo indica que o EP solo dela está vindo! O clipe do single “te dar” foi lançado no segundo semestre de 2019, um r&b gostosinho demais que já dá indícios do que podemos esperar. Se liga!
• ESTROFE MC
Quem sabe, sabe e quem não sabe, não conhece mas a gente explana em todo lugar, aqui não seria diferente hahahah. Bauru, no interior de SP, tem uma cena cultural independente muito forte. Há produções no funk, no rap, além de um movimento hip hop fortíssimo que trabalha todos os elementos artísticos da cultura e leva o conhecimento como linha de frente. O RPretas é fruto dessa cena, inclusive.
Com mcs e grupos talentosos de sobra, o Estrofe é sem dúvidas um dos que vem se destacando e se consolidando na cidade. Wesley tem 20 anos e vem trabalhando em projetos solos e coletivos desde muito cedo, aprimorando seu trampo no decorrer dos anos. Lançando só tapa de qualidade nas letras e no freestyle, o mc lançou recentemente o videoclipe de “Xaverô”, single de seu próximo trabalho intitulado EP "CatasTroffico".
O artista também é consagrado nas batalhas de rima, chegando a levar o troféu de Maior Campeão de Batalhas 2019 pelo Prêmio da Cultura Popular Bauruense. Preciso falar mais? Bom se atentar a esse EP que tá chegando…
• LEALL
É onde a coisa fica quente. De Marechal Hermes, zona norte do Rio de Janeiro, Leall têm feito barulho na cena desde que o single Criminal Influencer foi lançado em seu canal do YouTube, em maio de 2019, mas foi com o hit “Cachorrada” que ele se tornou um dos nomes de referência do grime e do drill brasileiro. O Mc também participa de um dos episódios mais visto do Brasil Grime Show, um programa que convida mcs de diversas vertentes para cantar seus sons ou até fazer freestyle em beats de grime, bem louco.
Pelo que tenho acompanhado, tá vindo um EP sincero do Leall pras ruas! Enquanto não chega, deixo aqui seu último lançamento, brabíssimo da estética à letra.
• MARABU
A primeira vez que eu ouvi “Boa Sorte”, do Marabu, eu fiquei me perguntando como não tinha escutado aquilo antes. De cara entrou pra minha playlist sobre correria e fé no processo. Acho, inclusive, que essa música é muito sobre isso, “Se o que não mata faz mais forte, quantas vez nóis quase morreu? Desejo pros bico boa sorte se forem jogar contra os meus” se liga? nois tem pra trocar! Marabu é cria do Jardim Ângela e do Capão Redondo, na zona sul de São Paulo, é estudante de História na USP e dá aulas em um cursinho popular. Como artista e MC, traz uma musicalidade diaspórica e ancestral - ao mesmo tempo que futurista e plural, em seus sons.
“Negócios”, primeiro trabalho do artista, agradece aos amigos por serem, também, sócios da firma. “Boa sorte”, que veio em seguida, abre os caminhos para o que ainda está por vir… No último semestre, foi lançada uma campanha de financiamento coletivo para a produção do disco, então acredito que podemos esperar novidades em breve.
• JUP DO BAIRRO
O que pode um Corpo Sem Juízo? a partir dessa questão que norteia o primeiro trabalho da artista foi que eu a conheci. Multiartista, Jup do Bairro já atuou como educadora, palestrante, stylist, atriz, cantora, performer, produtora de eventos e tem acompanhado Linn da Quebrada nos vocais, nas turnês recentes. Em junho de 2019, lançou seu single de estreia, “Corpo Sem Juízo”, produzido por BADSISTA, e com ele uma campanha de financiamento coletivo do EP Visual de mesmo nome.
O trabalho de Jup coloca em pauta narrativas que atravessam seu corpo enquanto travesti, preta, gorda e periférica. É uma arte potente e sensível sobre coragem, liberdade e corpo-coletivo. Sinto que é um trampo que comunica e transforma - a quem ouve e a quem faz.
Definido como “uma celebração coletiva em formato de áudio e vídeo com minhas memórias e experiências, criações autodidatas e contracultura sobre as dores e delícias de sermos nós mesmas.” pela própria artista, o EP Visual Corpo Sem Juízo está por vir e com certeza será um marco na cena.
• EBONY
Quando perguntei no twitter quais eram as apostas 2020 da galera, foi inquestionável: todas as respostas mencionavam a ebony. Também, não é pra pouco, ebony vem se destacando desde o lançamento de CASH CASH há menos de 1 ano atrás, e singles posteriores como “Bratz”, “Glossy”, “XOXO” e "Silly" também foram bem recebidos. Estamos falando aqui de uma mina preta e retinta, jovem, botando a cena trap no bolso - um cenário ainda machista e repleto de homens. Não há dúvidas quanto à notoriedade já conquistada pela artista, em tão pouco tempo. Seu trabalho mais recente foi uma participação na faixa “Confio” do novo álbum do FBC e agora estamos no aguardo de um possível EP e próximos lançamentos.
• MC TAYA
Ih, é.. preta patrícia! a Taya tira uma onda tranquilamente e nós amamos isso! Criadora de conteúdo, produtora cultural, modelo, Taya é uma presença forte nas redes sociais desde 2015 e recentemente se lançou na música com o single “Preta Patrícia” que saiu em primeira mão na VOGUE, tá bom pra você? Em seguida, lançou TRAPSTAR, um deboche muito bem escrito para esses caras da cena que francamente… deixo ela falar por mim. Acredito que a Taya tem os pés muito firmes no caminho que quer traçar na sua carreira e por isso sei que esse ano ela segue com tudo. Esses dias mesmo, a mc anunciou no twitter que vem remix de TRAPSTAR com uma participação absurda. Aqui no coletivo estamos tentando chutar quem pode ser ahahaha enquanto não sai, vamos de original!
• JOCA
Conheci o som do Joca nessa levada de lançamentos do último trimestre, através de alguma citação no twitter. Curiosa que sou, fui dar play em “A Salvação é Pelo Risco”, título que já me ganhou pelo momento que eu tava vivendo: fim da graduação, fase de transição, reflexões mil, tanto quanto os corres e a sensação de não poder errar nos caminhos… respira, a salvação é pelo risco. E é bem respiro, memória, cuidado e tranquilidade que esse EP transparece. O cuidado é pela arte e a gente sente isso no decorrer das 8 faixas que compõem esse trabalho de estreia.
A música é uma ferramenta de expressão artística e uma forma de contar histórias, relatar experiências e narrativas de um grupo, até mesmo denunciar injustiças de uma sociedade. Já falamos aqui anteriormente como os ritmos que nascem nas periferias sempre estiveram na mira da marginalização, justamente por esse viés potente de transformação e fala.
Esses são alguns dos artistas que me acompanharam e não só indico como aconselho o stream, sem medo. Como amante do cenário e produtora de conteúdo, gosto de falar sobre o assunto e botar o que to ouvindo pra jogo... E aí, já acompanha alguém dessa lista? Alguma indicação te conquistou? E, além disso, tem indicações de artistas da sua área ou da cena nacional que acredita merecer uma atenção? Joga aqui nos comentários! Assim a gente vai conhecendo outros trabalhos e saindo da bolha.
Continue acompanhando e trocando com o RPretas no instagram: @rpretas_
Beijos e até a próxima!
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