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Do não-contraste ao alto contraste: como a fotografia retrata pessoas negras?

  • Foto do escritor: rpretas
    rpretas
  • 14 de jan. de 2020
  • 3 min de leitura

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Texto por Pryscila Galvão


1940 é o ano da fotografia analógica colorida. O processo de “revelação” nada mais é que um processo químico onde o filme mostra a foto em si, mas quem tinha dinheiro para tirar fotos?

Se ainda acreditam na imparcialidade da ciência e da tecnologia, bom, 2020 já é um bom momento pra você sair desse conto de fadas. A fotografia foi criada por e para pessoas brancas já que eram essas que possuíam capital para investir na tecnologia de uma câmera fotográfica, o privilégio da imortalidade e da lembrança.


Hoje lidamos com diversas câmeras fotográficas, profissionais ou do nosso próprio celular, onde conseguimos captar momentos e pessoas o mais perto da realidade possível, mas nem sempre foi assim.


O processo químico da revelação necessitava de um equilíbrio e calibragem de cores dadas como padronizadas, principalmente para a cor da pele. A partir disso a Kodak, empresa pioneira no ramo de fotografia, cria o “cartão Shirley”, cartão esse com imagens de pessoas, principalmente mulheres, brancas com roupas de cores fortes e um cartão abaixo com a palavra “normal”. Esse cartão nada mais era a base de calibragem de exposição e tratamento de fotos analógicas coloridas da época: pessoas brancas.

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(Cartão Shirley)


A partir disso conseguimos entender a dificuldade tecnológica que duraram décadas de câmeras fotográficas captarem diversos tons de pele, principalmente tons mais escuros. Syreeta McFadden, uma fotógrafa afro-americana, diz que não conseguia ver o próprio rosto nas fotos, muito menos reconhecer pessoas negras que estavam nela.

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(Foto por Olivier Le Brun)


Mas como isso isso interferiu nos processo de autoestima de pessoas negras ao longo da história? Como que a representação na fotografia interferiu nesse processo? Por anos a tecnologia saiu imune desse processo e pessoas negras acreditaram que o problema estava no tom de sua pele, e não em um equipamento projetado para não reconhecer sua cor. A partir disso, se temos um padrão de reconhecimento branco e essas pessoas são as que são de fato representadas na mídia e na fotografia, a autoestima de pessoas negras são construídas a base de nada, e sempre tentando estar o mais próximo do padrão de beleza eurocêntrico possível.


Durante anos, até o “boom” de processo de emponderamento estético de pessoas negras, fotos sem efeitos, aumento de contraste e exposição eram basicamente impossíveis na vida de pessoas negras. O “embranquecimento” em retratos e nas famosas “selfies” fazia parte do nosso cotidiano, fazia parte da não aceitação de pessoas negras durante a adolescência e até na fase adulta.


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(Fotos cedidas por leitores do RPretas)


Fotos assim lotavam as redes sociais, do orkut ao facebook, do msn ao instagram. Fotos assim nada mais são que a prova de como a representação nos torna dependentes de um padrão que não nos representa muito menos nos contempla. Essas fotos é a tentativa de se tornar cada vez mais perto do que é reconhecido - sendo pela câmera fotográfica ou pela sociedade no geral.


Além disso, além da nossa própria edição, quem trata as fotos de pessoas negras? A fotografia, nua e crua, é apenas uma parcela de toda arte que vem depois. A edição, assim como usávamos para embranquecer nossas fotos, ainda é usada para retirar “defeitinhos” em grandes editoras e editoriais de moda e capas de revistas. Mas o que são defeitos para aqueles grandes editores?


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(Preta Gil antes e depois do tratamento de imagem)


O embranquecimento de imagens segue sendo utilizado por grandes marcas afim de diminuir nossos traços, clarear nossa cor e até mesmo, como no caso da Preta Gil, clarear nosso cabelo.


Hoje, graças a luta de movimentos antigos, a internet e a comunicação, pessoas negras estão cada vez mais inseridas no ramo da fotografia, nos representando e representando o mundo através da nossa forma de olhar tudo isso. Hoje as câmeras captam nosso tom de pele - do mais claro ao mais escuro - e hoje elas se tornaram instrumento de denúncia e de representação real de quem nós somos. No nosso instagram falamos um pouco de quem tá no corre da fotografia preta pra mudar esse cenário cada vez mais, dá um confere!


Fotografia é arte, linguagem e comunicação. Fotografia é símbolo e simbologia.

 
 
 
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